“A nossa alma é uma coisa concreta”, lia-se em 1994, num cartaz afixado nas ruas de Lisboa. Talvez o slogan de Fados – primeira incursão de Ricardo Pais no território do Fado – devesse ter sido guardado a sete chaves até agora, quando se anuncia a estreia absoluta de Sombras. Regresso do encenador ao TNSJ após dois anos de ausência, o espectáculo sonda – poderíamos dizer sonha – o modo de ser português, indagando lugares do nosso inconsciente mítico e da nossa personalidade histórica. “Portugal: questão que tenho comigo mesmo”, segundo a fórmula de Alexandre O’Neill. Tributo apaixonado às mais belas palavras escritas em português e dadas a ouver por Ricardo Pais no palco do TNSJ (António Ferreira, Garrett, Pessoa, Vieira, entre outros), Sombras faz-se também do Fado e da música, cuja fatalidade cénica nos foi dado descobrir em espectáculos tão sóbrios e exaltantes como Raízes Rurais. Paixões Urbanas (1997) e Cabelo Branco é Saudade (2005). Com uma equipa de excepção – na qual se contam Fabio Iaquone, Mário Laginha e Paulo Ribeiro, só para citar alguns –, estas Sombras irradiam a feliz luminosidade de uma síntese. Nelas se cruzam a Fala, o Canto e a Dança (também o Vídeo, no seu carácter simultaneamente especular e íntimo), artes e linguagens que Ricardo Pais foi industriosamente explorando ao longo do seu percurso artístico. Um espectáculo de variedades, uma criação transdisciplinar, ou… um projecto ricardopaisiano? A isto se dá também o nome de Teatro.

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